sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pessoas especiais

A equipa do Cam/necessidades educativas especiais esteve a dar formação a um belo grupo de jovens estudantes do 1ºano da ESE Setúbal. Gente curiosa, opinativa...boas cabeças. Pedimos aos participantes umas quantas linhas sobre a problemática da deficiência. A Sara Chaves respondeu ao desafio com este texto transparente que, a seguir transcrevemos. Obrigado Sara.

De que forma, através da profissão que queremos seguir, poderemos ajudar as pessoas com dificuldades educativas especiais?

De facto, estou cansada. Estou cansada de todas as campanhas de sensibilização para com as pessoas com dificuldades educativas especiais. Cansada das que dão na televisão, na rádio, das que escrevem nos jornais. Até das reportagens, trabalho que sonho um dia fazer, que dão sobre isso eu estou farta. Porquê? É simples... mas eu tenho que me explicar melhor. Eu não digo que estou cansada de quem as faz.. que acredito que as façam com toda a dedicação do Mundo. Quero acreditar que pelo menos a maior parte das pessoas que as fazem seja mesmo com o objetivo de apelar à ajuda para com os que precisam verdadeiramente dela e não porque ganharão algo em troca. Ao que me refiro quando estou farta destas campanhas, é mesmo das pessoas que as vêm. Estou cansada da Maria que pede ao Manel para aumentar o volume da televisão, quando estão a anunciar mais uma instituição para crianças com deficiência que irá fechar por falta de verbas, que exclama um : "Ai coitadinhos", mas que logo após o anúncio terminar continua a coser as peúgas do filho e nada faz para mudar isso; estou cansada da Francisca que enche o seu facebook cheio de "likes" de páginas como: Vamos ajudar o Carlos a ter uma cadeira de rodas" mas que não contribui com o mais pequeno donativo que seja; estou cansada que as pessoas leiam os apelos de ajuda nos jornais e que apenas os utilizem para tapar os móveis, quando vão pintar a sala. Quando me foi proposto escrever umas poucas linhas sobre de que forma a profissão que quero desempenhar poderia ajudar as pessoas com dificuldades educativas especiais, pensei: "Estou feita, isto vai dar-me pano para mangas." Simplesmente e infelizmente porque eu não consigo pensar assim. Eu gosto muito de pessoas, como já tinha referido. E acho que as pessoas é que "fazem" a roupa que vestem, as pessoas é que "fazem" aquilo que são, as pessoas é que "fazem" a maneira como praticam a sua profissão. O que quero dizer com isto, é que seria bastante mais fácil se eu escrevesse: "Olá, sou a Sara e quero fazer reportagens. Através da profissão que quero desempenhar, considero que a maneira que poderia utilizar para ajudar as pessoas com dificuldades educativas especiais seria mostrar ao mundo, através de vídeos, essa realidade, como reagem e o quanto precisam de ajuda, de modo a sensibilizar todos os que perderiam 20 minutos das suas vidas a vê-las." Agora pergunto, para quê? Talvez estas reportagens me dessem a nomeação para dez prémios, talvez até os ganhasse a todos. E depois? As pessoas que precisam iam ser ajudadas? O Henrique iria perder duas horas por semana de ginásio para ajudar estas pessoas? E a Mafalda iria deixar de ir ao cabeleireiro menos uma vez por semana para ajudar essas pessoas?
Eu não sei se me estou a fazer entender, e sei que este não é o objetivo que queriam. Tenho a certeza que existem muitas pessoas que, através da profissão que exercem, conseguem chegar perto de quem precisa de ajuda. Talvez seja eu que considere que através da minha não vá fazer grande coisa. Talvez ache que valha muito mais a pena pegar naquilo que sou, nos meus ideais, "arregaçar as mangas" e ir trabalhar com essas pessoas. Independentemente de ser cabeleireira ou dentista. Acredito que por detrás da profissão de pintor e de educadora de infância, das pessoas que estão conosco nestas duas aulas, estão duas pessoas apaixonantes que têm um grande amor por aquilo que fazem. E é assim que eu quero ser..