sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Um naufrágio no Museu

 

"Naufrágio de um cargueiro" - William Turner. Pintura . 1810
Museu Gulbenkian Nº Inventário 260

A 13 de Dezembro do ano passado fiz a minha primeira visita desenhada (depois de uma prolongada ausência) à obra de Turner, que batizei de “A Tempestade”. O grupo visitante chegou-nos do GAC, participantes habituais das propostas do setor de Necessidades Educativas Específicas dos museus da Fundação Calouste Gulbenkian. Na visita desenhada, para além de conhecermos melhor a obra do autor e a sua história contada através de episódios e curiosidades, a contextualização pela época e correntes estéticas, proponho que os participantes se sentem na frente da obra e desenhem a preto e branco com a velocidade dos ventos, riscar com água ondas e acender uma luz de calmaria no meio da escuridão. Um momento descontraído, pensado para experimentar diferentes materiais de desenho e mergulhar no oceano. Algumas perguntas lançadas em frente à obra promovem o foco e estimulam a opinião dos participantes: Conseguem ver dois soldados, de casacas vermelhas, que tentam salvar um companheiro? Onde andará a arca do tesouro? O que estará lá dentro? Quantos mastros tinha o navio? (mostro uma fotografia de uma embarcação praticamente igual à retratada, mas em bom estado). E quantas barcas mais pequenas estão retratadas? Conseguem ver o rochedo? E a única ave que voa na pintura? Quem já assistiu a um temporal destes? E soltam-se as opiniões... Depois é desenhar, conversar; até nos esquecemos dos outros visitantes que curiosos observam o nosso trabalho. E assim foi mais uma vista no Museu. Mais AQUI



quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Pop it : Porque não?

 


Os objetos tornam-se fantásticos,
não se fecham sobre a sua utilidade ou função,
permitem a maleabilidade e a reutilização criativa;
nas mãos de uma criança compõem-se
e recompõem-se num pleno jogo simbólico

Temos a tendência para considerar o Pop it como um brinquedo desinteressante, apenas mais uma moda fugaz abraçada pelas nossas crianças. Dizem que serve para “descontrair”, (sabe-se lá o que isto quer dizer) e encontram-se facilmente em qualquer loja Made in China; o que é certo é que o poderemos colocar no grupo de brinquedos sensoriais que podem ser úteis em diversas terapias. Mas um olhar atento pode revelar potencialidades escondidas, demonstradas pelas próprias crianças na apropriação livre dos objetos lúdicos. A partir deste ponto, também nós pais e educadores poderemos pensar outras possibilidades de brincadeira com o objeto e entender os fenómenos de desenvolvimento cognitivo que estão associados. Quando uma criança decide inventar um jogo a partir de um objeto ou criar regras novas para um jogo existente, está a desenvolver um pensamento construtivo, motor para novos raciocínios, descobertas, e autonomia intelectual. Também a defesa, a discussão e partilha de novas regras e novos jogos com os amigos, envolvem competências sociais geradas pelo processo de argumentação e negociação; depois, a experimentação da novidade, se for boa, ou seja, divertida, é adotada por todos/as com grande prazer e alegria.

Tenho dois unicórnios, um colorido e o outro branco, que servem para a minhas observações e experiências. Logo quando os mostrei a um pequeno jogador, mostrou-me uma brincadeira, usando o reverso do jogo, a que chamou de “magia”, passando os dedos com destreza sobre a superfície ondulada do brinquedo fez surgir os alvéolos (concavidades) automaticamente1. Depois virou o brinquedo ao contrário e começou a caminhar com os dedos sobre todas as bolhas disponíveis. Fica claro que este objeto conversa muito com as mãos, ajudando no desenvolvimento da motricidade.

Ler Mais: https://miguel-horta.blogspot.com/2021/12/pop-it-um-brinquedo-sensorial.html