terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A possibilidade do Desenho

A cadela Fiona entra na sala. Os meninos e meninas afagam o meigo animal, comunicam com ela. Entre estas crianças, Armindo. Ele demora mais tempo nas festas que faz à bichinha: é cego, de nascença. Percorre com atenção lendo com os dedos e a palma da mão todos os detalhes do simpático animal. Demora-se um pouco mais nas unhas, tão diferentes das nossas; servem para escavar e são duras, resistentes. Sobe um pouco mais no pelo morno, sente a massa muscular das coxas, completa a ideia do volume. Na cabeça fica atento a todos os detalhes, tocando, …. A cadelinha não se queixa. Armindo vai criando dentro dele a imagem do canídeo. Elisa Gaspar, a professora, pede-lhe para fazer um desenho do que sentiu, viu. E é espantoso como aquele menino invisual vai desenhando a lápis sobre papel cebola (onde o traço fica registado um sulco táctil) a imagem que apreendeu da cadela, projetada no mesmo córtex dos meninos sem limitações.
Não consigo evitar todas as perguntas que venho fazendo sobre o Desenho que para mim, para além de traço e sombra é também sulco táctil, memória de matéria; o Desenho para além do rasto do pó da grafite ou do pigmento depositado. Falo da possibilidade e alcance do Desenho, dessa característica que o faz transcender os limites do suporte e da ferramenta, devendo a existência primeira à sua natureza conceptual que risca no cérebro uma direção, uma intenção.
Esta minha presença nas escolas, junto das unidades de ensino especial, tem-me feito crescer. E por terra vão ficando uma boa mão cheia de preconceitos, de braço dado com uma série de interrogações.
EB Rio de Mouro – unidade de referência -2013http://miguel-horta.blogspot.pt/

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Programa do curso: Mediar públicos com necessidades educativas especiiais

Na origem deste curso que agora apresentamos, está a prática desenvolvida ao longo dos últimos anos pela equipa do Descobrir –Programa Gulbenkian Educação para a Cultura e Ciência responsável pelas propostas dedicadas aos públicos com necessidades educativas especiais. Um conceito transversal aos diferentes espaços museológicos e produções artísticas na Fundação Calouste Gulbenkian. Se é certo que esta prática de mediação nasce no interior de um Museu, ela acaba por interessar à escola e a outros agentes educativos. A educação artística, pela sua génese, contribui para a construção de outros caminhos na escola curricular, propondo formas de aprendizagem não formal em terrenos aparentemente formatados. Ao longo de 15 horas de formação certificada lançaremos o debate sobre a caracterização deste público específico, partilhando a experiência das diferentes oficinas do Descobrir, da música aos diversos espaços museológicos da Fundação Calouste Gulbenkian. Refletiremos sobre o perfil do monitor/educador de públicos com necessidades educativas especiais. Será dada uma atenção especial ao trabalho atual da escola pública nas suas unidades de ensino especial. Por fim, porque este curso tem um carácter muito prático, lançaremos o desafio para a criação de propostas específicas nos lugares educativos de origem dos formandos.
Com os olhos postos na escola
A escola pública viu-se obrigada a dar resposta a um universo cada vez mais vasto de solicitações educativas especiais. As unidades de ensino especial vão desenvolvendo o seu trabalho numa aparente sensação de isolamento; a interdisciplinaridade do trabalho artístico permite propor outras práticas na escola, ousando a mudança. Com a criação de agrupamentos escolares maiores, os profissionais de educação são cada vez mais confrontados com a presença de alunos com necessidades educativas especiais sem que as unidades de ensino especial tenham capacidade de formar docentes de forma efetiva no interior da escola de forma a dar resposta às solicitações emergentes. A variedade de situações em contexto educativo obriga a uma resposta imaginativa e assertiva na abordagem do processo educativo.
Aqui se insere a nossa proposta, apresentando um outro ponto de vista, numa abordagem não formal do processo educativo. Ainda, a convicção de que a relaçãoEscola –Museu traz benefícios mútuos, quer para os agentes educativos, quer para os educandos, num universo de propostas e partilhas fundamentais no mundo contemporâneo.Uma proposta transversal
Desde 2006, que o Setor Educativo do Centro de Arte Moderna tem vindo a desenvolver um trabalho importante e continuado com populações portadoras de deficiência e/ou doença mental, numa lógica que pretende alargar acessibilidades, promover o museu enquanto espaço inclusivo e reforçar a ideia de uma educação artística como parte integrante da formação completa de qualquer indivíduo -um princípio que se prende com o direito de cidadania.
Assim, ao longo destes anos tem sido desenvolvido um trabalho regular com públicos muito diferenciados nas necessidades, desafios e exigências, planificando e realizando um conjunto de oficinas criativas especializadas e diversificadas. Estas oficinas que partem da coleção e exposições para descobertas e conquistas pessoais destes visitantes complementam a experiência museológica com um trabalho oficinal. A capacidade questionadora da produção artística atual gera neste público respostas interiores e uma comunicação com evidentes reflexos terapêuticos. Agora, este conceito de origem foi alargado através do programa Descobrir, numa proposta transversal a todos os núcleos pedagógicos e artísticos existentes na Fundação Calouste Gulbenkian, organizados em quatro linhas de orientação oCorpo, o Rosto, oTacto e a Paisagem que nos envolve - para maior assertividade na resposta a quem nos procura. Estes quatro grandes núcleos contêm diferentes propostas pedagógicas, desenvolvendo-se no Museu Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna e Serviço de Música em visitas e oficinas de educação artística, cruzando diferentes linguagens e materiais numa prática estimulante e especializada. Espaços de criatividade e fruição em diálogo constante com a produção dos artistas presentes na Fundação.
Oficinas