domingo, 5 de abril de 2020

Notas sobre recensão inclusiva de livros para a infância e juventude



Antes de começar a falar de livros deveremos colocar uma espécie de “óculos” para podermos ler os leitores, com acuidade. Esses “óculos inclusivos” vão dar-nos um ponto de vista justo e equilibrado sobre os processos de mediação e escolha de livros para diferentes grupos de pessoas. Rapidamente nos apercebemos que, no horizonte das literacias, nos deveremos colocar num ponto de vista claro, para poder identificar, com objectividade, fenómenos e situações de Exclusão que vão condicionar o acesso à produção cultural. Esse olhar apurado vai permitir entender que para diferentes leitores existem diferentes respostas. Identificar as diferentes exclusões vai ajudar a conhecer a nossa biblioteca através desse ponto de vista. As exclusões podem ser de natureza distinta: cultural, linguística, religiosa, económica, geográfica, por doença, por deficiência física, por diversidade funcional de diversas origens; sabendo nós que as exclusões tendem a agrupar-se num mesmo indivíduo. Estes “óculos” reveladores, assim que poisados nos livros, conseguem identificar, também, as apetências intrínsecas da nossa biblioteca. Assim, este ou aquele livro, jogo, documento audiovisual, ou outra peça da coleção, ajusta-se à Promoção da Inclusão, ou é potencialmente Inclusivo, ou, ainda, claramente Acessível a este ou àquele grupo de leitores.Importa, porém, fugir da solução tentadora, e quase taxonómica, de organizar os livros de acordo com a deficiência ou característica de exclusão dos nossos leitores especiais. Através da nossa óptica, um olhar humano confirma que, a montante no leitor, existe uma personalidade, gostos e interesses específicos que potenciam escolhas e, sobretudo, um nível etário, um nível de leitura, e, ainda, uma relação com a língua da obra, que permitem estabelecer naturalmente o momento ideal para as descobertas leitoras – e só depois de ponderados estas dimensões se contempla o factor de diversidade funcional. Assim, a selecção dos livros surgirá sempre do entendimento desta diversidade humana, com base na experiência real da mediação leitora e na consciência bibliotecária, consequência de um olhar apurado através de lentes inclusivas.

Miguel Horta, 2019

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