Antes
de começar a falar de livros deveremos colocar uma espécie de
“óculos” para podermos ler os leitores, com acuidade. Esses
“óculos inclusivos” vão dar-nos um ponto de vista justo e
equilibrado sobre os processos de mediação e escolha de livros para
diferentes grupos de pessoas. Rapidamente nos apercebemos que, no
horizonte das literacias, nos deveremos colocar num ponto de vista
claro, para poder identificar, com objectividade, fenómenos e
situações de Exclusão
que
vão condicionar o acesso à produção cultural. Esse olhar apurado
vai permitir entender que para diferentes leitores existem diferentes
respostas. Identificar as diferentes exclusões vai ajudar a conhecer
a nossa biblioteca através desse ponto de vista. As exclusões podem
ser de natureza distinta: cultural, linguística, religiosa,
económica, geográfica, por doença, por deficiência física, por
diversidade funcional de diversas origens; sabendo nós que as
exclusões tendem a agrupar-se num mesmo indivíduo. Estes “óculos”
reveladores, assim que poisados nos livros, conseguem identificar,
também, as apetências intrínsecas da nossa biblioteca. Assim, este
ou aquele livro, jogo, documento audiovisual, ou outra peça da
coleção, ajusta-se à Promoção
da Inclusão,
ou é potencialmente Inclusivo,
ou,
ainda, claramente Acessível
a
este ou àquele grupo de leitores.Importa, porém, fugir da solução
tentadora, e quase taxonómica, de organizar os livros de acordo com
a deficiência ou característica de exclusão dos nossos leitores
especiais. Através da nossa óptica, um olhar humano confirma que, a
montante no leitor, existe uma personalidade, gostos e interesses
específicos que potenciam escolhas e, sobretudo, um nível
etário, um nível de leitura, e, ainda, uma relação com a língua
da obra, que
permitem estabelecer naturalmente o momento ideal para as descobertas
leitoras – e só depois de ponderados estas dimensões se contempla
o factor de diversidade funcional. Assim, a selecção dos livros
surgirá sempre do entendimento desta diversidade humana, com base na
experiência real da mediação leitora e na consciência
bibliotecária, consequência de um olhar apurado através de lentes
inclusivas.
Miguel
Horta, 2019
Ver artigo completo AQUI
Sem comentários:
Enviar um comentário